domingo, 5 de outubro de 2008

O Tabu do Infanticídio Indígena.

Muitos povos indígenas brasileiros ainda praticam o infantício, prática vista como algo "cruel" por nossa sociedade.


Sei que mexo em um "vespeiro". Vivemos épocas em que o STF vota pelo direito à vida de fetos anacéfalos e a sociedade vê casos em que crianças são arremessadas janela à fora.


Tentarei colocar a visão de um cientista, alguém que tenta retirar as emoções de seu texto em busca de uma análise mais "crua" dos fatos.

Pessoalmente também acredito que toda a vida humana possui o mesmo valor, mas temos entender o contexto desses casos de infanticídio.


Tem-se que partir do princípio que sociedades indígenas são, em suas raízes, sociedades com um número reduzido de indivíduos e cooperativas por natureza.


Homens, na caça e Mulheres na roça, há uma ajuda mutua e coletiva em busca de alimentação e bem-estar. O nascimento de alguma pessoa com qualquer tipo de deficiência (física ou mental), atrapalha o funcionamento da "máquina".


Dizendo de maneira bem "crua", temos uma "boca" extra para sustentar, mas esta pessoa não pode nos ajudar a buscar mais sustento. Ou seja, todos trabalhariam mais por um indivíduo com dificuldades de ajudar ao todo.


Sendo assim, os povos menos aculturados tem o costume de matar ou mesmo abandonar "à própria sorte" indivíduos com algum tipo de "deficiência".


Podemos achar "desumano", mas é seleção natural em seu grau mais puro.


Não só razões de deficiência física ou mental determinam esta "sentença de morte".

Povos como os Yanomami (entre outros), culturalmente, matam ambos os irmãos de uma gestação de gêmeos , pois acreditam que o espírito encarnado foi dividido em dois corpos. Como o espírito é uma entidade "una e indivisível" , matam ambos os recém-nascidos para terem certeza de que este voltará futuramente em apenas em corpo.

Estas mortes garantem a coesão cultural do povo.


Há uns 3 anos, mais ou menos, um grupo de evangélicos missionários que frequenta a Terra Indígena dos índios Pirahã (no Estado do Amazonas), resolveu trazer a São Paulo um grupo de crianças índias, que por razões culturais viriam a morrer, caso permanecessem lá.


Este grupo de missionários "invadiu" a TI Pirahã (povo quase isolado), para lhes ensinar "o caminho de Jesus".

Em sua cruzada, convenceram uma jovem Pirahã a ir a Manaus, e depois a São Paulo cuidar de sua filha, vitima de paralisia cerebral.


Foram cometidos dois erros gravíssimos:

Não se pode deixar um grupo missionário evangélicos invadir uma aldeia quase isolada para catequizar (quem quer que seja), afinal estamos no século XXI, o direito ao livre culto é assegurado em nossa "Carta Magna" e os índios podem e devem idolatrar suas próprias entidades.


Não se pode deixar que os valores pregados por parte na nossa sociedade seja imposto de de maneira tão vertical.
Então, um Pastor (um ente externo àquele povo), decide que esta criança Pirahã deve viver e leva não só a criança como seus pais para grandes centros para "ajudar" no tratamento.

Ora, este são índios que não sabem direito o que é um rádio de pilhas, são enviados à maior Metrópole do Cone Sul e são confrontados com carros, aviões, poluição, bandidos..... e tudo mais o que este Mega centro oferece.

Se para quem nasceu em São Paulo esta é uma cidade que "sufoca", imaginem para quem nunca concebeu nenhum lugar parecido com isso?
Já imagino esses índios desembarcando em Cumbica, ou no Tietê.
Se me dá calafrios, não consigo imaginar o que se passaria na cabeça deles.

A volta dessas pessoas à sua aldeia causará , invariavelmente, mudanças drásticas na forma que eles vêem o mundo.
Sua cultura já foi modificada pelo "evangelho" e pelo "casal viajante". Também terão que mudar seus hábitos para cuidar desta criança que não poderá ajudar nas tarefas tribais diárias.
A criança, aparentemente, viverá. Quem corre o maior risco é a Cultura Pirahã.
Qual será o impacto causado pelas mudanças que a sobreviência desta criança trará? Como a viagem de seus pais repercutirá no futuro na aldeia em que vivem?
Só sei que é muita informação e muito pouco tempo para assimilar a mudança.
Não é melhor deixar as coisas como elas estavam?
Deve-se mexer com quem está quieto?

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