quinta-feira, 27 de maio de 2010

Por que os EUA não ratificam o acordo nuclear com o Irã ?

A complexidade das Relações Internacionais é, ao mesmo tempo o que me fascina e o que me intriga.

Há um século atrás, o mais comum era que a diplomacia fosse gerida de gabinetes fechados e fosse pautada por acordos secretos.
Desde o final da Primeira Guerra, ficou instutuído que a diplomacia fosse aberta.

Os tratados entre países só seriam aceitos pela comunidade internacional se fossem publicados na "Sociedade das Nações" (antecessora da ONU).

De fato, isso é o que vem sendo feito desde então.

Desta forma, a comunidade internacional ganhou em transparência.

Entretanto, o que ainda não mudou nos últimos 300 anos são os processos de negociação de acordos, esses sim continuam sendo secretos (e dificilmente deixarão de ser).

Ocorre que quando esses processos são revelados mostram como o mundo das RI´s pode não fazer sentido (aparentemente).

O Brasil e a Turquia vinham conduzindo o processo de pacificação da "crise nuclear" iraniana.
Os principais atores da ONU, descrentes de um acordo, jácomeçam a pensar em sanções ao país persa. Passaram essa responsabilidade para nós como uma última cartada (mas já desacreditando que pudéssemos dar uma solução final a este problema).

E não é que, contrariando todas as previsões, chegou-se a um acordo, e com bases muito favoráveis á pacificação iraniana.

Vitória dos emergente, vitória da "nova diplomacia mundial" (aquela que democratiza os meios de negociação e os países envolvidos).

Os EUA foram os primeiros a desconsiderar o acordo feito, desmereceram o esforço feito pelos "terceiro mundistas".
Deixaram a impressão de que só porque somos da periferia seriamos incapazes de dar respaldo real a um acordo com essa importância. Algo como:

"O Acordo só vale se for feito por alguém do G-7 ou do Conselho de Segurança."

Eis que agora a "Folha de SP" divulga a troca de mensagens entre Barack Obama e Lula sobre esse assunto e mostram que o acordo conseguido com o Irã segue exatamente o os pontos discutidos entre EUA e Brasil.

Ou seja, assumimos o posto de negociadores; fazemos a ponte entre as extremidades do problema; conseguimos um acordo que segue à risca o que foi pedido pelas Potências Ocidentais e, mesmo assim, ao invés de sermos celebrados como "peace makers", somos sumariamente ignorados por aqueles que nos pediram ajuda no início.

Até o surgimento dessa troca telegramas entre Brasil e EUA até havia espaço para rumores e reclamações das potências mundiais, agora, qualquer reclamação perdeu o sentido.

Só me pergunto:

O que motiva a insistência em punir o Irã?

Qual a justificativa que os EUA darão para continuar pedindo sanções econômicas ao Irã agora?

É, pelo jeito a diplomacia secreta ainda existe.....

Leia a correspondência entre Obama e Lula traduzida e na íntegra.


(foto da WEB)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A Rússia e o Aquecimento Global: vantagens e desvantagens

O aquecimento global mudará o Polo Norte para sempre, e não estou falando apenas do aspecto ecológico da região, a geopolítica também vai esquentar.....

A Rússia sempre quis uma saída de mar "quente" para agilizar suas transações comerciais, o Mar do Norte fica congelado por volta de oito meses do ano, um grande complicador para a economia moscovita.

No século XIX (1854), a Rússia empreendeu contra a Turquia a "Guerra da Criméia" em busca dessa rota comercial permanente.
Uma coalizão de Inglaterra, França e Turquia impediu que os russos dominassem os desejados estreitos de Bósforos e Dardanelos, frustrando os sonhos de liberdade marítima do Czar.

Com o iminente derretimento do Polo Norte, sem esforço, a Rússia está conseguindo a sua tão sonhada saída comercial permanente.

Mas não é apenas uma nova rota que a Rússia deseja nessa atual fase do planeta.

O Polo Norte é uma área riquíssima em petróleo e gás natural - principalmente gás.

Supõe-se que 30% das reservas não exploradas de gás do Mundo estejam nessa região.

Todo esse pacote de combustível fóssil está sob de alguns metros gelo - que já começou a derreter.
Ao contrário do Polo Sul (que foi declarado "bem indivisível da Humanidade"), o Polo Norte é cobiçado por muitos países daquela região, agora será mais ainda.

A Noruega é o grande obstáculo dos russos nesse momento, pela proximidade geográfica, os "vikings" também desejam estabelecer controle dessa região.

Forma-se uma equação instável e altamente complexa. O desejo de combustíveis fósseis, de rotas comerciais somados a rivalidades históricas.

A Noruega foi palco de disputas entre nazistas e russos durante a Segunda Guerra, devastando o país e deixando grande ressentimento na população local.

Já é possível ter uma ideia do tipo de rivalidade que existe naquela região.

Um conflito por recursos naturais ou mesmo vias de acesso marítimo podem trazer grande intranquilidade ao Mar do Norte.

É o aquecimento global trazendo novos-velhos conflitos à tona.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A polêmica da limitação das armas. - Parte 2


(...continuando)

A invasão a uma colônia poderia resultar em uma resposta (auto-defensiva) de seu colonizador?

E uma guerra-civil na colônia?

Qual seria a definição de uma "guerra justa" ?

O que ocorreu na década de 20 foi um grande desacordo entre as potências, cada uma delas possuindo sua própria definição do que seriam os "armamentos justos" e do que seriam "guerras justas".

Com isso, a Alemanha armou-se - secretamente - durante 15 anos, e no momento oportuno deixou o pacto e iniciou as invasões que dariam início à Segunda Guerra.

O Japão invadiu a Manchúria (hoje parte da China e da Rússia), em 1931, alegando a defesa de suas colônias.
Assim como a Itália invadiu a Absínia (Etiópia), em 1935, usando os mesmos argumentos.

Como é sabido, esses 3 países foram responsáveis pela formação do "EIXO", liderado por Hitler, anos depois.

Agora a polêmica volta com nova roupagem.

Desde já, adianto que não acredito em uma "Terceira Guerra Mundial", entretanto o que causa certo temor são as tentativas de regulação de armamentos, afinal, já falharam no passado e nada indica que funcionarão agora.

Essa postagem é motivada pelo novo Tratado de Não-Proliferação (Atômica), proposto pelos EUA para ajudar a regulação do poder nuclear no mundo.

Assim como ocorrido em 1928, o resultado do novo TNP é mais tensão e aumento de arsenal.

Os EUA não conseguirão controlar a produção bélica ou atômica de quem quer que seja, pois isso é um atributo de soberania nacional (se quiserem mesmo se armar, os Estados irão se armar e ponto).
Não se pode impedir os países de fabricar armas, às vezes, nem mesmo se pode impedí-los de usá-las.

O que pode ser feito é puní-los em caso de ataque injustificado a outras nações.

O Irã já possui um projeto atômico em desenvolvimento e é impossível pará-lo.

O que deve ser feito é garantir que esse projeto não resulte, no longo prazo, em ataque nuclear.

Em um caso como esse, acredito ser muito mais efetivo negociar soluções pacíficas (como têm feito o Brasil e a Turquia) do que ameaçar uma retaliação nuclear "preventiva" (como querem os EUA).

Queremos mesmo repetir os erros do passado?

É sempre bom lembrar que o país que surge como "paladino da justiça e da moral " foi o único a usar armas atômicas contra populações civis.

O interesse em fiscalizar a disseminação dessa tecnologia não se dá pela busca da "paz mundial ", mas sim, porque os EUA não desejam que mais países obtenham o controle do "ciclo atômico".


terça-feira, 4 de maio de 2010

A polêmica da limitação das armas. - Parte 1

É engraçado como, de tempos em tempos, algumas polêmicas do passado voltam à pauta com nova roupagem.

Deve ter isso que Nietzsche quis dizer com o "eterno retorno".

Agora os EUA se esforçam para emplacar uma nova política de limitação atômica. Criam-se novas regras e um belo discurso de "busca da paz" para justificar o controle da tecnologia atômica.

Os EUA até tentam dar o exemplo, afirmam que eles próprios estão reduzindo seu arsenal em 40%. Em breve serão "apenas" três mil ogivas atômicas.

Afirmam que só deixarão de ser uma nação nuclear quando todos os outros países do mundo assim o fizerem (e, convenhamos, isso nunca acontecerá).

Para mim, essa postura lembra muito a discussão ocorrida no final da década de 20, e que originou o "Pacto de Briand-Kellog".

A marca principal desse acordo era o de proibir a guerra como instrumento de política internacional (exceto em caso de auto-defesa).

O pacto surgiu como resultado das atrocidades ocorridas durante a Primeira Guerra.
O trauma vivido pelas nações foi tão grande que os países acharam que um documento assinado por (quase todos) as nações poderia impedir que o acontecimentos como a Grande Guerra de 1914 se repetisse.
Hitler, anos mais tarde, provou que esse tipo de tratado possui pouco ou nenhum efeito prático.

O primeiro passo seria definir o que era armamento de "defesa" e armamento de "ataque", para que depois fosse eliminado tudo o que fosse de "ataque".
Criou-se uma comissão na "Sociedade das Nações" (a antecessora da ONU) para efetuar a fiscalização de armas e exércitos.

Essa definição de "armas de ataque" ou de "defesa" era extremamente subjetiva.
Para a França - que sempre temeu a Alemanha - qualquer carro-de-combate alemão era arma ofensiva.
Já para a Alemanha, um Exército de cem mil homens era pouco para defender suas fronteiras do imperialismo francês ou do soviético.

O segundo passo foi definir o que seriam as guerras de auto-defesa.

O mesmo problema existente na questão dos armamentos repetiu-se na definição da "guerras defensivas".

(continua...)