sábado, 17 de abril de 2010

O Brasil e a Questão Nuclear.

Semana cheia para as Relações Internacionais. Na "Conferência sobre Segurança Nuclear" os países discutiram o futuro da tecnologia atômica e o direito dos países do mundo em desenvolvê -la e usá-la.

A energia nuclear tem um caráter único:

É, ao mesmo tempo, uma fonte energética e uma poderosa arma militar.

Se usada da maneira correta é uma ótima alternativa em um mundo carente de fontes -relativamente- limpas.

Se usada de maneira descontrolada é uma arma capaz de causar danos extensos em curto período de tempo.

Os tratados acerca da força atômica se esforçam para garantir que os países que detêm essa tecnologia usem-na como matriz energética e não como arma.

O "Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas" (TNP) tem como objetivo principal garantir o uso pacífico dessa tecnologia.

A tarefa de garantir o uso pacífico dessa tecnologia é inglória, pois é muito difícil prever, de saída, as motivações que políticos e cientistas possuem ao desenvolverem seus programas atômicos.

Os maiores detentores da tecnologia nuclear se esforçam em qualificar quem é "bonzinho" e quem é "mau", classificação um tanto subjetiva no mundo turbulento das Relações Internacionais.

Ser classificado como "mau" pode significar uma série de sanções dos outros países e/ou ser isolado da comunidade internacional.

Sanções que acabam mesmo prejudicando o "todo" e têm poucos fins práticos para refrear o ímpeto das elites políticas dessas nações (vide Cuba, Coréia do Norte, Iraque.....)

Mas a quem interessa a classificação dos Estados e de seus programas nucleares?

Interessam aos EUA e aos países da Europa, que por meio da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) fiscalizam a produção e segurança dos programas nucleares mundo afora.

Os técnicos da AIEA fazem vistorias em usinas e laboratórios para garantir que o país vistoriado esteja respeitando as regras internacionais sobre o assunto.

Durante a Conferência da semana passada, os EUA - um dos maiores detentores de arsenal nuclear e único a já ter usado esse arsenal em guerra - fizeram enorme esforço para que os países do mundo assinassem um adendo do TNP que aumentaria o poder "de polícia" da AIEA.

Esse adendo daria liberdade para que os referidos técnicos pudessem vistoriar qualquer localidade de um país "a qualquer tempo". Ou seja, teriam autorização para fazer ,até mesmo, "vistorias surpresas".

Alegam que essa seria a melhor forma desbaratar programas e instalações secretas nos países visitados.

Entretanto, alegação de que os países não deveriam possuir programas secretos de desenvolvimento nuclear não se sustenta.
Israel possui um programa nuclear do qual pouco se sabe e, mesmo assim, as nações líderes do Conselho de Segurança da ONU nada falam sobre o risco de ogivas nucleares voarem sobre a Palestina.

(Talvez porque Israel seja tratado como sendo parte dos "bonzinhos" já que são políticamente muito próximos aos EUA).

O mundo "subdesenvolvido" é o grande alvo do "novo TNP".
Os países desenvolvidos relutam em aceitar que o "Clube Atômico" - antes restrito aos grandes países europeus , a China e aos EUA - vem sendo ampliado.
Paquistão, Índia e Coreia do Norte já possuem suas próprias armas, o que assusta os países de Primeiro Mundo.

O Irã, ao que tudo indica, está próximo de possuir seu próprio arsenal.

Alias, faço a pergunta:

Por que o Brasil insiste em negociar saídas pacíficas para o impasse atômico iraniano?
Em primeiro lugar, porque o Brasil é um país históricamente pacífico, preceito que aqui está presente na Constituição Federal.

Segundo, porque os dirigentes brasileiros perceberam que os mesmos países que hoje criticam o programa iraniano podem, no futuro, se voltar contra o Brasil.

O Brasil é detentor de enormes jazidas de mineral atômico. A jazida de Urânio é das maiores (senão "a" maior) do mundo.
O que claramente aumenta a cobiça internacional sobre nossa nação.

Soma-se a isso, a tecnologia nuclear do Brasil.

Para enriquecer urânio são necessárias centrífugas especiais, o Brasil desenvolveu - com tecnologia própria - as centrífugas mais eficientes do mundo (melhores até do que as americanas e russas). Logicamente, os países desenvolvidos querem ter acesso a essa tecnologia pioneira.

Para isso, criam factoides e "duvidam" que o programa nacional seja mesmo pacífico, argumento que apresentam para tentar adentrar as instalações dos laboratórios nacionais.
O Brasil, sabiamente, nega a entrada em determinadas áreas desses complexos.

Nosso país parte do principio de que tecnologia nuclear existe, que deve haver regulamentação sobre seu uso, mas nenhum país deve ser probido de desenvolvê-la.
Deve, sim, ser punido caso ameace usá-la indevidamente.

O Itamaraty e o atual governo têm como princípio o conceito de que não devemos nos submeter aos designios de nações que se colocam como "protetoras da Humanidade" quando na verdade querem preservar seus "status" de potência nuclear "congelando" o desenvolvimento tecnológico do resto do mundo.

Samuel Pinheiro Guimarães, (ex-Secretário Geral do Itamaraty) e mentor da atual política externa do Brasil, afirma que:

"As grandes Nações do mundo só respeitam os países que se dão ao respeito [e não agem de maneira subserviente para com os Estados mais poderosos]".

Sou obrigado a concordar com "Seu Samuca" e com a atual postura brasileira.

Alias, deixo uma pergunta no ar:

Existe muita regulamentação acerca do uso da energia e arsenal atômico, mas as armas convencionais são as grandes causadoras de mortes em conflitos pelo mundo.

Se o problema é o dano e o sofrimento causado pelas armas em geral, não seria adequado que se criasse maior regulamentação em relação à sua produção?
A quem interessa a ampliação contínua dos arsenais convencionais?


(foto da WEB)