segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Pescador e a Garoupa, licoes do Conhecimento Tradicional aplicado.

Impressionante como 'as vezes, o conhecimento nao depende de formacao intelectual.

Como estamos no Verao, lembrei-me de um "causo" de minha infancia que mostra como o conhecimento tradicional tem grande valor.

Nos anos 90, meu pai decidiu que trocaria os veroes na Bahia por temporadas na praia de Cajaiba (Paraty). Hoje em dia, Cajaiba e' "pop" mas, naquela epoca, era uma praia de pescadores praticamente desconhecida do grande publico. Por conta do isolamento, fizemos amizades com quase todos os pescadores da regiao. Os turistas eram poucos e os nativos muito acolhedores.

Um desses pescadores tinha um grande "misterio" que intrigava ate' mesmo seus companheiros de profissao.

De tempos em tempos, esse caicara, chamado "Ceceu", aparecia com uma "Garoupa" (Epinephelus Marginatus) sempre com mais de 1 kg. Dizia ter pego com vara de pescar em uma toca que seu pai havia lhe mostrado quando ainda era crianca. Pescadores sabem que garoupas nao sao peixes de se pescar "na vara". Ou se pesca no arpao (como nos faziamos), ou voce tem "a sorte" de pega'-los em redes de arrasto, como faziam os outros pescadores. No "anzol" era rarissimo.

Ceceu contrariava a regra, saia com vara e linha e se empoleirava em uma pedra "X", que nao era nem tao escondida assim. Dali a algum tempo voltava com mais um peixe nas maos. Perguntado como fazia, despistava: "Fico conversando com eles e uma hora mordem a isca". (pescadore profissionais nao revelam seus metodos assim, de mao beijada). Havia dias em que ele saia sem o equipamento de pesca, mas ia para "aquela" pedra "conversar com os peixes".

Uma dessas vezes, mergulhavamos proximo 'a area em que ele ficava e, confesso que mesmo podendo observar debaixo d'agua , nao encontramos nada de "misterioso" no local em que ele se colocava.

Ficavamos muitos dias na praia, portanto foi possivel notar que havia um padrao no comportamento de Ceceu. As garoupas nao eram pescadas a todo momento. Notamos que as visitas em que ele nao levava vara eram mais frequentes do que 'as que levava equipamentos de pesca. Percebemos que ele devia respeitar algum periodo lunar, de mare' ou algo assim.... Ia em horarios marcados, tipo fim da tarde. Era bastante "cientifico" sem, na verdade, se-lo.

Um dia perguntei-lhe por que nao voltava com peixes toda semana ou mesmo todos os dias. Simplesmente me disse que "Nao era o certo".

Nao sei qual era o conhecimento formal que o caicara possuia, mas pude ver que entendia muito do ambiente em que vivia e ja' guardava conceitos inatos de "sustentabilidade". "O Segredo" que Ceceu mantinha vinha de seu pai . O sabio pescador mostrou -lhe que existe o momento de "dar" e o de "colher", que era melhor ter um pouco de cada vez, mas sempre, do que tudo de uma vez e nada mais.

Ceceu ia todos os dias 'a tal pedra dar de comer 'as pequenas garoupas. Quando estas chegavam a um tamanho razoavel - em determinada epoca do ano, ou lua - ele pescava. Sabia que se pescasse tudo de uma vez nao teria para o futuro e, portanto, criou esse engenhoso sistema. Como mantinha essa rotina, as garoupas ja' estavam acostumadas com a alimentacao "gratis" aos finais de tarde e, eventualmente, encontravam um "anzol" em meio 'a comida que recebiam regularmente. Nesse momento Ceceu garantia sua janta.

Nao vou 'a Cajaiba desde 93. Nao sei o que se passou com Ceceu e suas garoupas. Mas sua experiencia como pescador foi responsavel pela minha primeira aula pratica de "Sustentabilidade Ambiental". Por fazer do jeito "certo", acredito que o pescador nunca ficou sem comida. Se existissem outros com a consciencia desse pescador e' bem possivel que nao enfrentassemos sobrepesca em nossos litorais.


( Foto : http://www.pescasubrj.com/peixe/garoupa.jpg)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Coreia do Norte no Buraco.

Que "Wikileaks" que nada! Quem quer ser o centro das atencoes neste mes e' a Coreia do Norte.

Apos divulgar uma nova planta de enriquecimento de uranio e dar demonstracoes de "forca" ao bombardear uma ilha que disputa com a Coreia do Sul, o Governo de Kim Jong Il parece ter tomado gosto pelos holofotes. Aparentemente, os lideres da peninsula comunista reforcam seu desejo de "negociar" pela via da ameaca velada. Acabam de "deixar vazar" que estao perfurando um buraco de 1km de profundidade e que este ja' estaria na metade. A previsao e' que chegue 'a profundidade desejada em quatro ou seis meses.

E voce ai se perguntando por que um simples buraco merece analise.

Facil, escavacoes como esta so' tem uma razao de ser:

Sao feitas para a realizacao de TESTES NUCLEARES.

Atualmente nao e' mais possivel realizar experiencias atomicas "a esmo". Ha' severas punicoes para o pais que realizar explosoes nucleares na atmosfera, no fundo do mar ou no espaco sideral. Sendo assim, os paises que desejam por 'a prova seus arsenais devem faze-lo nas profundezas da terra, em buracos de 1km ou mais.

Aparentemente, esse e' o terceiro "buraco" do tipo contruido por Kim Jong Il, o que levaria a crer que os coreanos ja' encaminham seu terceiro teste atomico. Se estao testando a terceira bomba e' porque devem possuir outras mais. (Ou e' isso que querem nos fazer crer).

E', o pais pode ser pequeno e economicamente insignificante mas eles sempre arrumam um jeito de aparecer. Chamar para a "mesa de negociacoes" da maneira convencional e' que nao e' seu forte.

A Coreia do Sul e o Japao, como sempre, ja' estao de cabelos em pe'.

"Falem bem, falem mal. Mas, por favor, falem de mim!"



(Imagem fonte: http://static.blogstorage.hi-pi.com/photos/antoniopedro47.bloguepessoal.com/images/mn/1243882911/Coreia-do-Norte-e-o-Nuclear.jpg)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Brasil reconhece a Palestina de 1967.

O Governo Lula esta' terminando mas algumas decisoes importantes tem sido tomadas nessa reta final de mandato do metalurgico.

O Brasil saiu do "muro" e oficializou sua posicao de apoio ao reconhecimento da Palestina respeitando as fronteiras de 1967. Tal atitude brasileira foi louvada no mundo arabe e condenada por Israel. Nao poderia ser diferente.

Extra-oficialmente, o Brasil ja' trabalhava com esse arranjo mas, ao externar sua posicao, da' maior forca politica ao Estado Palestino. Nao foi atoa que dias apos a atitude brasileira, a Argentina e Uruguai seguiram nossos passos.

Israel condenou a postura dos sulamericanos. Afirmou que o posicionamento e' "inoquo" e desnecessario. Nao ajuda o processo de paz e aumenta a tensao na regiao. Afirmam, ainda, que a postura brasileira limita qualquer chance do pais em interferir no processo de paz da regiao. Como quem diz: "Se voces sao favoraveis 'a Palestina, sao contra os Israelenses."

Ao contrario do que pensam as liderancas judaicas, acredito que o posicionamento brasileiro e' benefico. Nao e' porque o Brasil tem uma posicao que se transformara' em um pais inflexivel.
As negociacoes entre arabes e judeus enfrentam um de seus piores momentos. A ajuda de outros paises pode colaborar com a flexibilizacao das posturas e a busca de entendimentos. O Brasil pode se tornar importante nesse processo pois tem boas relacoes com quase todos os povos do mundo, e em breve mandara' tropas ao Libano, criando uma chance de se aproximar do conflito e de seus protagonistas.

Os Israelenses se esquecem que s reivindicacoes dos palestinos constam de resolucoes da ONU de longa data, os arabes apenas querem o que deveria ser seu por direito. Por falta de forca economico-militar, os palestinos sao sumariamente expulsos de suas terras tradicionais.

Equanto os refugiados palestinos sao "espremidos" em Gaza ou na Cisjordania (West Bank), as invasoes judaicas prosseguem. Pela forca militar controem muros de separacao, "check points", realizam embragos economicos e bloqueios de todos tipo. Para completar ampliam as ocupacoes ilegais em territorio originalmente palestino.

Essas sao atitudes incompreensiveis vindas de um povo que parece que se esqueceu o que e' ser marginalizado e perseguido.

Torco para que os lideres do "Likud" (Partido de extrema-direita judaico) nao se esquecam do sofrimento que seu povo passou nos ghetos de Varsovia, na decada de 30. Quem sabe assim sejam mais flexiveis nas negociacoes com seus "irmaos arabes".

Daqui, continuo torcendo para que a atitude brasileira ajude a acelerar os negociacoes de paz e nao a trava'-las.

(Imagem, fonte: http://www.bahianoticias.com.br/fotos/editor/Image/palestina_brasil.jpg)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"Patriotada"

Dilma vai aos poucos divulgando sua equipe e..... Surpresa!
Antonio Patriota (foto direita) foi indicado como proximo Chanceler do Brasil.

Ao contrario do que parecia, Dilma da' sinais de que inclinada a seguir o caminho ja' adotado por Lula nos assuntos externos. Bom sinal.

Como havia explicitado em meu post: "Esqueceram de Mim" ou "Dilma nao gosta de Amora" ,
temia que a guerrilheira rompesse a conduta politica adotada por Samuel Pinheiro Guimaraes e Celso Amorim chamando para o Itamaraty alguem com outras inclinacoes politicas. Como ja' havia afirmado, a nao-ida de Amorim 'a Asia apontava para a mudanca de rumos, o que felizmente nao ocorreu.

Dilma gostaria que uma mulher ocupasse o cargo de Chanceler mas, ao que parece, os nomes femininos que lhe foram apresentados nao agradaram. A "Folha de S. Paulo", que cogitou Nelson Jobim e Jose Viegas para a pasta, tambem errou (Gracas a Deus).

Tanto melhor, Patriota ja' vem atuando como escudeiro de Amorim ha' algum tempo, atualmente ocupa a Embaixada do Brasil em Washington (a mais importante das embaixadas brasileiras na hierarquia do Itamaraty) e e' protagonista da politica externa "Ativa e Altiva" brilhantemente iniciada por seu antecessor.

E' o nome mais adequado para a pasta.

Fiquei muito feliz por ter me equivocado.

Parabens Dilma.



(Fonte da Imagem: http://3.bp.blogspot.com/_8iibR7CFBog/TN1a6vqpQyI/AAAAAAAAbRw/72apTJUM-NM/s1600/burns-patriota.jpg)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Na Guerra do Afeganistao, menos e' mais.

Uma das frases mais batidas sobre o(s) conflito(s) do Afeganistao e' a que diz:
"Afeganistao e' o pantano americano". Ou "O Afeganistao foi o pantano sovietico".

Essas frases sao mais do que simbolicas, atualmente elas sao bastante reais. A "Foreign Policy" dessa semana explica um dos por ques os EUA tem passado dificuldades para "pacificar"o pais e livra-lo dos talebans.

Os EUA usam grande variedade de veiculos de apoio 'as tropas em suas incursoes pelo pais. A "cavalaria" norte americana é composta por "Carros-de-Combate" Abrahams (foto), o maior "tanque" do mundo, passando pelas "Hummer", SUV's normais - como Ford Explorer ou Nissan Pathfinder- e quadriciclos e "snowmobiles" .

Os EUA tem muito medo de baixas militares. Cada soldado morto no Oriente Medio faz com que haja grande repercussao na America. Por conta disso, as tropas americanas sao orientadas a patrulhar o pais com os grandes veiculos blindados e nao com os veiculos "leves".

Os especialistas classificam essa postura do Exercito Americano como "um erro". Esses veiculos maiores tem dificuldades para andar no solo afegao (que em determinadas areas e' mesmo um pantano). Sendo assim, os "monstrengos" tem que andar apenas por vias largas e asfaltadas e acabam perdendo o "elemento surpresa" - muitas vezes necessario em uma guerra de guerrilha como essa. O Contra-ataque dos talebans e' manjado, como as vias de acesso sao restritas, eles instalam poderosas minas terrestres nas poucas estradas asfaltadas que existem e aguardam a chegada dos comboios americanos para iniciar as emboscadas.

Os "tanques" tambem nao conseguem chegar a muitas das areas do pais. Ha' um grande numero de vilas que sao "encravadas" em meio a cadeias montanhosas, com caminhos estreitos demais para os blindados. Resultado: diversas regioes nao tem suporte dos americanos para garantir sua seguranca.

Os analistas afirmam que uma opcao viavel e' a de usar mais os veiculos "leves" deixar os grandes "carros de combate" para acoes pontuais. Com veiculos mais ageis, dependeriam menos das vias asfaltadas e acessariam com mais facilidade as regioes montanhosas do pais. Poderiam realizar maior numero de acoes noturnas e melhorar o "elemento surpresa".

Outra postura considerada errada, por ser "covarde", e' o numero de veiculos nas composicoes dos "comboios". As patrulhas sao compostas por, pelo menos, quatro veiculos, dessa forma, quando andam nas estradas formam uma grande "serpente", mais faceis de serem interceptados pelos misseis RPG (bazuca) das "forcas de resistencia". Os veiculos leves ajudariam a fragmentar os comboios que poderiam se "desmanchar" ou se reagrupar com maior rapidez.

O medo do aumento das mortes de soldados faz com que os EUA aumentem a blindagem de seus veiculos e, para esses analistas, o caminho mais correto seria diminui-la.

Um daqueles casos em que "menos e' mais"

(Aos que se interessarem, vai o link da reportagem - em ingles - da "FP" )




(Imagem Fonte: http://www.swapmeetdave.com/United/Salute/Abrams.jpg)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Coreia do Norte diz: "Hey! Olhe para Mim!"

Ontem, uma forte troca de tiros de artilharia entre as duas Coreias fez esquentar o clima na peninsula asiatica.

Oficialmente, as Coreias ainda estao em guerra ja' que nunca assinaram um "cessar-fogo" para acabar com o conflito de 1950.
Desde entao, a Coreia do Sul cresceu e se tornou um dos "Tigres Asiaticos", um dos paises mais industrializados da regiao.
Coreia do Norte se isolou em uma "ditadura socialista" das mais fechadas do globo, se "desindustrializou" e so' tem a China como grande parceiro.

Sem muito a oferecer ao mundo em termos economicos-comerciais, a Coreia do Norte, 'as vezes, da' um "susto" na comunidade internacional para que as pessoas se lembrem de sua existencia.
Ha' alguns anos afirmou que havia completado seu ciclo atomico e testou uma bomba nuclear (dizem...).
Seu vizinho do Sul e o Japao ficaram "de cabelo em pe', mas nao abriram dialogo.
No inicio deste ano, os norte coreanos afundaram um navio pesqueiro da Coreia do Sul em uma area de mar disputada pelos dois paises. Novamente o mundo se lembrou dos norte-coreanos, mas foi so'.
Agora, mais esse incidente em area de disputa.
Deve-se ressaltar que a Coreia do Sul e os EUA estao realizando exercicios militares em conjunto na mesma regiao nesse exato momento.

Clovis Rossi, na "Folha de S. Paulo" de hoje, afirma que esse e' um "pedido para conversar", e que, portanto, nao e' provavel uma volta dos conflitos na Peninsula Coreana.
Compartilho dessa posicao.

Uma guerra na regiao nao interessa a ninguem. Os motivos que levaram aos conflitos de 1950 ja' nao se justificam.

Aparentemente, esse "pedido" de dialogo ocorre por conta processo de sucessao na Coreia Comunista.
Se em um pais grande e solido a sucessao de governo pode ser motivo de preocupacao, imagine em um pais nas condicoes da Coreia do Norte.

E' um jeito curioso de pedir para conversar, mas ha' um dito em Politica Internacional:

"A guerra tambem e' uma forma de se fazer politica."


Kim Jong Il (foto) sabe disso.


(Em Tempo: A China deve acabar intervindo em favor da Coreia do Norte no Conselho de Seguranca da ONU e, assim, apaziguar mais essa crise.
O "Gigante Asiatico" e' o maior interessado em manter a ordem na regiao.
Em um possivel conflito, os refugiados de guerra norte-coreanos "inundariam" a fronteira da "Republica Popular" o que nao e' uma boa ideia para um pais que ja' tem pessoas demais.
Os chinenses usariam seu poder para acalmar o Ocidente ate' o proximo acesso de "negociacao" do Ditador Jong Il.)

(desculpe a falta de acentos, espero resolver isso essa semana)



(imagem: http://www.whateverlah.com/index.php/2006/10/11/719)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"Esqueceram de Mim" ou "Dilma nao gosta de Amora"

A "Era Dilma" nem comecou e a ex-ministra ja' aprontou das suas.
O "debut" internacional de Dilma esta' ocorrendo na reuniao do G-20 na Coreia do Sul.
Momento de transicao, fim do "Governo Lula", clima de festa de fim de ano.... situacao propicia para homenagens e "concordia", certo?

NOT!

Celso Amorim, Ministro das Relacoes Exteriores mais longevo no cargo ( mais de 1o anos), merecia uma despedida mais digna de sua importancia.

Dilma e sua equipe de transicao "esqueceram" de mandar as passagens de Amorim para a Asia.

Que Amorim nao iria continuar ja' era sabido. Mas foi, no minimo, deselegante nao chama'-lo para a ultima reuniao de cupula de seu mandato como ministro.

Amorim e' um dos principais responsaveis pelo sucesso da politica externa do Governo Lula, aparte alguns erros (todos nos os cometemos), suas acoes elevaram o moral do Brasil no exterior e deram voz ativa ao pais nos foruns internacionais.

Na minha humilde opiniao, um dos melhores ministros que ja' ocupou a cadeira do "Itamaraty" em tempos recentes.

Ainda nao esta' claro o significado dessa postura de Dilma, imaginava-se que o sucessor de Amorim no Itamaraty seria Antonio Patriota, atual Embaixador do Brasil em Washington.

Patriota e' herdeiro legitimo da postura de Amorim e de Samuel Pinheiro Guimaraes, seria a escolha da continuidade.
Com o "passa-fora" aplicado a Amorim pairam duvidas sobre a vertente que o proximo governo adotara' na area externa.

A "Folha de S. Paulo" especula dois nomes para assumir MRE (Ministerio das Relacoes Exteriores):
Nelson Jobim (atual ministro da defesa) e Jose' Viegas (ministro da defesa do primeiro mandato de Lula).

Pessoalmente, acho que a proxima Presidente (me recuso a usar o termo "presidenta") deveria ser mais respeitosa com esse ministro que tanto contribuiu para o Brasil. Para honrar o legado de Celso Amorim deveria escolher Patriota (agora, tudo indica que nao).

Ao que parece, os "ventos de mudanca" ja' sopram no Planalto. Resta torcer para que sejam mudancas para melhor.....



(PS: Sigo com problemas para acentuar algumas palavras, agradeco a compreensao)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Reforma do Conselho de Seguranca da ONU.

A reforma do Conselho de Seguranca da ONU e' um assunto que, volta e meia, surge nas discussoes sobre Relacoes Internacionais e Poder.

Para fazer um breve historico, a Conselho de Seguranca da ONU (C.S.-ONU). E' o organismo de "alta cupula" da Organizacao das Nacoes Unidas. E' no C.S.-ONU que a maioria das decisoes importantes sao tomadas, principalmente quando trata-se do assunto "guerra-paz".
O C.S-ONU tem 65 anos, possui 5 nacoes com cadeiras "permanentes" e outras 10 nacoes em cadeiras "rotativas".
As "cadeiras permanentes" (EUA, China, Reino Unido, Franca e Russia), pertecem aos vencedores da Segunda Guerra Mundial e sao as unicas que possuem direito a "veto" em votacoes.
Para se aprovar uma medida e' necessaria a aprovacao de 9 membros (incluindo os 5 permanentes), com apenas "UM" veto a proposta e' derrubada.

Apos os 65 anos de ONU, o mundo passou por grandes mudancas, todavia o C.S.-ONU continua igual 'a epoca de sua fundacao.
Muitas potencias e muitos paises emergentes pedem, ha' algum tempo, a reformulacao do orgao para uma "configuracao mais condizente com a realidade atual".
Dificil acreditar em um organismo de tanta importancia sem o Japao e a Alemanha como membros permanentes.
Entretanto, quando se fala em reforma imagina-se algo mais amplo, que afete todos continentes.

Os principais postulantes a vaga permanente sao:

Alemanha, Japao, India, Brasil e Africa do Sul.

Cada um desses paises sofre restricoes para sere aceito.

A Alemanha tem problemas com a Franca; o Japao e a India, com a China; a Africa do Sul, com a Nigeria; e o Brasil, com a Argentina e o Mexico.

A pressao para que haja a mudanca existe, assim como a vontade de manutencao do status quo (quem te Poder nao gosta de dividi-lo).

Volta e meia os paises se manifestam em relacao 'as tais mudancas, mas o fazem de maneira vaga e aleatoria. Ontem, foi o Presidente dos EUA, Barack Obama, que, em viagem 'a India, pregou a entrada do pais no C.S. .
A China encarou a declaracao de Obama como "provocacao de ultima hora", visto que os mandarins e os ianques travam uma verdadeira "guerra cambial" no ultimos meses.

O Ministerio das Relacoes Exteriores do Brasil recebeu a colocacao de Obama como "positiva", acreditando que o dialogo podera' levar 'a mudanca pretendida.

O otimismo do Brasil deve ser moderado.
Acredito que o C.S. -ONU sera' modificado, mas tenho minhas duvidas em relacao 'a maneira como isso ocorrera', e quando.
Nesse momento, concordo com os chinenses. A fala de Obama soa como "factoide jornalistico" para agradar indianos e para desviar as atencoes em relacao 'a estagnacao economica americana, 'a derrota parlamentar do Partido Democrata e 'a queda de popularidade interna de seu "Commander-In-Chief " .

A mudanca do C.S. e' aguardada, mas atos sempre foram mais significativos que palavras, continuamos 'a espera.

(Imagem Predio da ONU- fonte: site infoescola)


(desde ja' me desculpo pela falta de acentuacao de algumas palavras, venho enfrentando problemas com meu "micro", espero resolve-los em breve.)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Fim da invasão americana no Iraque. Começo dos problemas no Afeganistão.

Após 7 anos, o Governo Obama anunciou que irá iniciar a retirada de suas tropas do Iraque.

Os EUA demoraram todo esse tempo e gastaram vultosas quantias para concluir o que todos já sabiam:

O Iraque não possui armas de destruição em massa e também não representa "perigo à segurança americana". Esse é o discurso oficial que justificava a intervenção.
Extra oficialmente (acredito eu), os EUA perceberam que o Iraque é financeiramente inviável e o petróleo que ali existe ficou caro demais para compensar o esforço de guerra empreendido.

Ou ainda: "Melhor do que está não dá pra ficar. Let's leave." Mas isso é um pensamento meu.

No fim das contas, não sei se é possível chamar o que está acontecendo no Iraque de "retirada de tropas".
Os EUA vão diminuir o contingente de soldados de 80 mil para 50 mil nos próximos meses -o que, convenhamos, não é uma redução tão substancial assim-.
Esses 50 mil remanecentes ficarão mais 4 anos na "Terra de Saddam" para - supostamente - treinar e aparelhar as tropas do governo local.

É possível que a população local nem sinta que houve real redução nas tropas americanas em seu país, haja vista que os "Marines" poderão ser substituídos por firmas privadas como a "BlackWater".
Essa "empresa de seguraça" (leia-se exército mercenário) contrata ex-combatentes do próprio Exército americano para compor suas forças de batalha.
Em resumo, troca-se o nome e a "pessoa jurídica", mas pouco muda na prática.

Supondo que o reservista que serviu no Iraque decida que não irá se juntar à "iniciativa privada" ele poderá voltar para casa? Irá rever sua família?

Não, é bem capaz que não.
Há grandes chances de ser enviado para outro front não muito longe dali: o Afeganistão.

A terra da Al Quaeda e das carverna de Osama fazem com que, na comparação, o Iraque pareça um parque de diversões.

O Afeganistão é uma "ficção geopolítica".
Foi um Estado criado, no século XIX, para "separar" as conquistas do "Império Russo"(ao norte) das conquistas do "Império Britânico" (ao Sul) no Oriente Médio e na Ásia Central.
Históricamente, todos os países que tentaram dominar o "Pais" sofreram derrotas humilhantes para a população local.
Os conquistadores constumam dominar as regiões de planície, onde fica a capital do país, Cabul, mas não conseguem dominar a região montanhosa no sudeste - boa parte da fronteira com o Paquistão -.

Aconteceu com os britânicos no século XIX, com os russos na década de 80 do século XX (o Vietnã soviético") e ocorre agora com os EUA, na "Guerra Contra o Terror" que já dura 9 anos.

Não se deve perder de vista que quando Obama disse que sairia do Iraque é natural que se pense que os gastos militares americanos seriam reduzidos - afinal, é uma guerra a menos para se bancar - mas, ao contrário, as despesas militares irão subir por conta da guerra afegã.

Você, que já chegou até aqui em sua leitura, deve estar se perguntando por que tanto interesse no Afeganistão?

A libertação do oprimido povo afegão?

Não!

Matar Bin Laden e acabar com a Al Quaeda?

Talvez, mas essa busca, por si só, não justifica os bilhões de dólares que já foram gastos e os que ainda serão.

Acertou quem disse petróleo, ou melhor, gás natural.

A região do Mar Cáspio é rica nesse tipo de hidrocarboneto e há poucas opções para o escoamento desse "commoditie" tão valioso.
A maioria das rotas de gasodutos está sob controle geopolítico da Rússia ou da China, o que não interessa aos EUA que quer sua própria via de escoamento pelo Afeganistão e pelo Paquistão (até o mar das Arábias).

Para conseguir acessar gás "caspiano" a pacificação do Afeganistão é imprescindível, situação que parece cada vez mais ilusória e dispendiosa aos EUA.

(ver mapa)


Os EUA estão subindo o tom contra o Irã, que pode a segunda opção de rota desse gasoduto.

Seria quase impossível, nesse momento, que os EUA abrissem uma terceira frente de batalha no Oriente Médio, mas, reduzindo suas operações no Iraque é mais fácil pensar em uma operação no Irã.

O empecilho à ação americana na "Pérsia" é o programa nuclear de Mahmoud Ahmadinejad o qual os EUA estão loucos para impedir que seja finalizado.

Analistas experientes que escrevem para a revistas como a "Foreign Affairs" afirmam que o esforço empreendido para acessar o gás natural do Mar Cáspio não compensa a perda de vidas de seus combatentes, da pressão da opinião pública norte-americana e das tensões locais.
Ademais, os EUA já chegaram à cifra de quase US$ 1 bilhão por dia investidos em sua "Maquinas de Guerra" mundo afora. O que é muito até mesmo para um país próspero como os EUA.

Os EUA agiriam com mais inteligência se decidissem abandonar definitivamente suas pretensões imperialistas no Oriente Médio, (mal) disfarçadas de "Guerra ao Terror", e procurassem outras regiões do globo para suprir suas necessidades energéticas.
Preferencialmente, pelas vias "normais" de negociação e comércio e não pela invasão e ocupação militar.

Entretanto, nem sempre o que poderia ser é o que realmente é.

Que afundem no "Pântano Afegão" então.

Afinal, não serão os primeiros a fazê-lo.


(imagens da WEB)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Varsóvia -1939 = Gaza-2010.

É impressionante como o Mundo dá voltas.

Em 1939, a Polônia é invadida pela Alemanha Nazista que cerca, segrega e mata um número altíssimo de judeus, apenas por serem judeus.

Hoje, 70 anos depois, os judeus fazem o mesmo com os palestinos da Faixa de Gaza.

Ok! A disputa no Oriente Próximo é antiga, para ser mais exato, é uma disputa bíblica.

Há muito tempo se discute quem deveria proteger (ou possuir) a região da Palestina.

A região em questão já passou pela dominação de vários povos..... Em tempos recentes saiu da mão do Império Turco-Otomano, foi para a França e depois à Inglaterra (ao final da Primeira Guerra Mundial).

Durante a Segunda Guerra, e após seu final, houve grande migração de judeus de toda a Europa em direção à "Terra Santa".

A Inglaterra, como gestora oficial da região, não aprovava a migração, todavia, não conseguia contê-la.
Como era um momento em que a Inglaterra estava se "desfazendo" de suas colônias pouco fez para impedir a invasão dos judeus à Palestina.

Os ingleses preferiram propor a divisão da região entre árabes e judeus e a ONU como gestora desse processo.

A Capital, Jerusalém, seria compartilhada pelos dois povos, visto que ambos a consideram como "solo sagrado".

Tudo isso ocorreu entre 1945 e 1949.

De lá para cá, o que estava dividido meio a meio foi conquistado, na forma de duas guerras pelos judeus (a "Dos Seis Dias" e do "Yomkipur") que, além de aumentarem suas possessões sobre o espaço físico da região, também passaram a controlar as fronteiras de ambos os "Estados".

Hoje, os israelenses constroem muros para oficializar a demarcação de uma área que foi ilegalmente INVADIDA.
Transformam a vida dos árabes-palestinos que vivem ali em um verdadeiro martírio. Todos não-israelenses e não-judeus são, a priori, terroristas.

Os abusos das autoridades judaicas são frequentes, o preconceito, constante.

O desrespeito às leis internacionais também é.
Quem tenta ajudar os "sobreviventes" de gaza é taxado como conspirador e terrorista co-partícipe (quem sabe, até mesmo, membro da Al-Qaida).

Isso ocorreu esta semana com a brasileira-americana Iara Lee, que poderia ser uma das nove pessoas mortas durante a interceptação violenta de seu navio por forças israelenses, e que teve de assinar uma declaração confessando o "ato de terrorismo" (de levar remédios e comida para os habitantes de Gaza) para poder deixar a prisão de Israel e ser deportada aos EUA.

É vergonhoso que um povo que foi vítima de opressão por tanto tempo - e saiba o que é ser DESTERRADO - não veja problemas em infligir o mesmo sofrimento a co-irmãos tão pouco tempo depois do Holocausto.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Por que os EUA não ratificam o acordo nuclear com o Irã ?

A complexidade das Relações Internacionais é, ao mesmo tempo o que me fascina e o que me intriga.

Há um século atrás, o mais comum era que a diplomacia fosse gerida de gabinetes fechados e fosse pautada por acordos secretos.
Desde o final da Primeira Guerra, ficou instutuído que a diplomacia fosse aberta.

Os tratados entre países só seriam aceitos pela comunidade internacional se fossem publicados na "Sociedade das Nações" (antecessora da ONU).

De fato, isso é o que vem sendo feito desde então.

Desta forma, a comunidade internacional ganhou em transparência.

Entretanto, o que ainda não mudou nos últimos 300 anos são os processos de negociação de acordos, esses sim continuam sendo secretos (e dificilmente deixarão de ser).

Ocorre que quando esses processos são revelados mostram como o mundo das RI´s pode não fazer sentido (aparentemente).

O Brasil e a Turquia vinham conduzindo o processo de pacificação da "crise nuclear" iraniana.
Os principais atores da ONU, descrentes de um acordo, jácomeçam a pensar em sanções ao país persa. Passaram essa responsabilidade para nós como uma última cartada (mas já desacreditando que pudéssemos dar uma solução final a este problema).

E não é que, contrariando todas as previsões, chegou-se a um acordo, e com bases muito favoráveis á pacificação iraniana.

Vitória dos emergente, vitória da "nova diplomacia mundial" (aquela que democratiza os meios de negociação e os países envolvidos).

Os EUA foram os primeiros a desconsiderar o acordo feito, desmereceram o esforço feito pelos "terceiro mundistas".
Deixaram a impressão de que só porque somos da periferia seriamos incapazes de dar respaldo real a um acordo com essa importância. Algo como:

"O Acordo só vale se for feito por alguém do G-7 ou do Conselho de Segurança."

Eis que agora a "Folha de SP" divulga a troca de mensagens entre Barack Obama e Lula sobre esse assunto e mostram que o acordo conseguido com o Irã segue exatamente o os pontos discutidos entre EUA e Brasil.

Ou seja, assumimos o posto de negociadores; fazemos a ponte entre as extremidades do problema; conseguimos um acordo que segue à risca o que foi pedido pelas Potências Ocidentais e, mesmo assim, ao invés de sermos celebrados como "peace makers", somos sumariamente ignorados por aqueles que nos pediram ajuda no início.

Até o surgimento dessa troca telegramas entre Brasil e EUA até havia espaço para rumores e reclamações das potências mundiais, agora, qualquer reclamação perdeu o sentido.

Só me pergunto:

O que motiva a insistência em punir o Irã?

Qual a justificativa que os EUA darão para continuar pedindo sanções econômicas ao Irã agora?

É, pelo jeito a diplomacia secreta ainda existe.....

Leia a correspondência entre Obama e Lula traduzida e na íntegra.


(foto da WEB)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A Rússia e o Aquecimento Global: vantagens e desvantagens

O aquecimento global mudará o Polo Norte para sempre, e não estou falando apenas do aspecto ecológico da região, a geopolítica também vai esquentar.....

A Rússia sempre quis uma saída de mar "quente" para agilizar suas transações comerciais, o Mar do Norte fica congelado por volta de oito meses do ano, um grande complicador para a economia moscovita.

No século XIX (1854), a Rússia empreendeu contra a Turquia a "Guerra da Criméia" em busca dessa rota comercial permanente.
Uma coalizão de Inglaterra, França e Turquia impediu que os russos dominassem os desejados estreitos de Bósforos e Dardanelos, frustrando os sonhos de liberdade marítima do Czar.

Com o iminente derretimento do Polo Norte, sem esforço, a Rússia está conseguindo a sua tão sonhada saída comercial permanente.

Mas não é apenas uma nova rota que a Rússia deseja nessa atual fase do planeta.

O Polo Norte é uma área riquíssima em petróleo e gás natural - principalmente gás.

Supõe-se que 30% das reservas não exploradas de gás do Mundo estejam nessa região.

Todo esse pacote de combustível fóssil está sob de alguns metros gelo - que já começou a derreter.
Ao contrário do Polo Sul (que foi declarado "bem indivisível da Humanidade"), o Polo Norte é cobiçado por muitos países daquela região, agora será mais ainda.

A Noruega é o grande obstáculo dos russos nesse momento, pela proximidade geográfica, os "vikings" também desejam estabelecer controle dessa região.

Forma-se uma equação instável e altamente complexa. O desejo de combustíveis fósseis, de rotas comerciais somados a rivalidades históricas.

A Noruega foi palco de disputas entre nazistas e russos durante a Segunda Guerra, devastando o país e deixando grande ressentimento na população local.

Já é possível ter uma ideia do tipo de rivalidade que existe naquela região.

Um conflito por recursos naturais ou mesmo vias de acesso marítimo podem trazer grande intranquilidade ao Mar do Norte.

É o aquecimento global trazendo novos-velhos conflitos à tona.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A polêmica da limitação das armas. - Parte 2


(...continuando)

A invasão a uma colônia poderia resultar em uma resposta (auto-defensiva) de seu colonizador?

E uma guerra-civil na colônia?

Qual seria a definição de uma "guerra justa" ?

O que ocorreu na década de 20 foi um grande desacordo entre as potências, cada uma delas possuindo sua própria definição do que seriam os "armamentos justos" e do que seriam "guerras justas".

Com isso, a Alemanha armou-se - secretamente - durante 15 anos, e no momento oportuno deixou o pacto e iniciou as invasões que dariam início à Segunda Guerra.

O Japão invadiu a Manchúria (hoje parte da China e da Rússia), em 1931, alegando a defesa de suas colônias.
Assim como a Itália invadiu a Absínia (Etiópia), em 1935, usando os mesmos argumentos.

Como é sabido, esses 3 países foram responsáveis pela formação do "EIXO", liderado por Hitler, anos depois.

Agora a polêmica volta com nova roupagem.

Desde já, adianto que não acredito em uma "Terceira Guerra Mundial", entretanto o que causa certo temor são as tentativas de regulação de armamentos, afinal, já falharam no passado e nada indica que funcionarão agora.

Essa postagem é motivada pelo novo Tratado de Não-Proliferação (Atômica), proposto pelos EUA para ajudar a regulação do poder nuclear no mundo.

Assim como ocorrido em 1928, o resultado do novo TNP é mais tensão e aumento de arsenal.

Os EUA não conseguirão controlar a produção bélica ou atômica de quem quer que seja, pois isso é um atributo de soberania nacional (se quiserem mesmo se armar, os Estados irão se armar e ponto).
Não se pode impedir os países de fabricar armas, às vezes, nem mesmo se pode impedí-los de usá-las.

O que pode ser feito é puní-los em caso de ataque injustificado a outras nações.

O Irã já possui um projeto atômico em desenvolvimento e é impossível pará-lo.

O que deve ser feito é garantir que esse projeto não resulte, no longo prazo, em ataque nuclear.

Em um caso como esse, acredito ser muito mais efetivo negociar soluções pacíficas (como têm feito o Brasil e a Turquia) do que ameaçar uma retaliação nuclear "preventiva" (como querem os EUA).

Queremos mesmo repetir os erros do passado?

É sempre bom lembrar que o país que surge como "paladino da justiça e da moral " foi o único a usar armas atômicas contra populações civis.

O interesse em fiscalizar a disseminação dessa tecnologia não se dá pela busca da "paz mundial ", mas sim, porque os EUA não desejam que mais países obtenham o controle do "ciclo atômico".


terça-feira, 4 de maio de 2010

A polêmica da limitação das armas. - Parte 1

É engraçado como, de tempos em tempos, algumas polêmicas do passado voltam à pauta com nova roupagem.

Deve ter isso que Nietzsche quis dizer com o "eterno retorno".

Agora os EUA se esforçam para emplacar uma nova política de limitação atômica. Criam-se novas regras e um belo discurso de "busca da paz" para justificar o controle da tecnologia atômica.

Os EUA até tentam dar o exemplo, afirmam que eles próprios estão reduzindo seu arsenal em 40%. Em breve serão "apenas" três mil ogivas atômicas.

Afirmam que só deixarão de ser uma nação nuclear quando todos os outros países do mundo assim o fizerem (e, convenhamos, isso nunca acontecerá).

Para mim, essa postura lembra muito a discussão ocorrida no final da década de 20, e que originou o "Pacto de Briand-Kellog".

A marca principal desse acordo era o de proibir a guerra como instrumento de política internacional (exceto em caso de auto-defesa).

O pacto surgiu como resultado das atrocidades ocorridas durante a Primeira Guerra.
O trauma vivido pelas nações foi tão grande que os países acharam que um documento assinado por (quase todos) as nações poderia impedir que o acontecimentos como a Grande Guerra de 1914 se repetisse.
Hitler, anos mais tarde, provou que esse tipo de tratado possui pouco ou nenhum efeito prático.

O primeiro passo seria definir o que era armamento de "defesa" e armamento de "ataque", para que depois fosse eliminado tudo o que fosse de "ataque".
Criou-se uma comissão na "Sociedade das Nações" (a antecessora da ONU) para efetuar a fiscalização de armas e exércitos.

Essa definição de "armas de ataque" ou de "defesa" era extremamente subjetiva.
Para a França - que sempre temeu a Alemanha - qualquer carro-de-combate alemão era arma ofensiva.
Já para a Alemanha, um Exército de cem mil homens era pouco para defender suas fronteiras do imperialismo francês ou do soviético.

O segundo passo foi definir o que seriam as guerras de auto-defesa.

O mesmo problema existente na questão dos armamentos repetiu-se na definição da "guerras defensivas".

(continua...)

sábado, 17 de abril de 2010

O Brasil e a Questão Nuclear.

Semana cheia para as Relações Internacionais. Na "Conferência sobre Segurança Nuclear" os países discutiram o futuro da tecnologia atômica e o direito dos países do mundo em desenvolvê -la e usá-la.

A energia nuclear tem um caráter único:

É, ao mesmo tempo, uma fonte energética e uma poderosa arma militar.

Se usada da maneira correta é uma ótima alternativa em um mundo carente de fontes -relativamente- limpas.

Se usada de maneira descontrolada é uma arma capaz de causar danos extensos em curto período de tempo.

Os tratados acerca da força atômica se esforçam para garantir que os países que detêm essa tecnologia usem-na como matriz energética e não como arma.

O "Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas" (TNP) tem como objetivo principal garantir o uso pacífico dessa tecnologia.

A tarefa de garantir o uso pacífico dessa tecnologia é inglória, pois é muito difícil prever, de saída, as motivações que políticos e cientistas possuem ao desenvolverem seus programas atômicos.

Os maiores detentores da tecnologia nuclear se esforçam em qualificar quem é "bonzinho" e quem é "mau", classificação um tanto subjetiva no mundo turbulento das Relações Internacionais.

Ser classificado como "mau" pode significar uma série de sanções dos outros países e/ou ser isolado da comunidade internacional.

Sanções que acabam mesmo prejudicando o "todo" e têm poucos fins práticos para refrear o ímpeto das elites políticas dessas nações (vide Cuba, Coréia do Norte, Iraque.....)

Mas a quem interessa a classificação dos Estados e de seus programas nucleares?

Interessam aos EUA e aos países da Europa, que por meio da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) fiscalizam a produção e segurança dos programas nucleares mundo afora.

Os técnicos da AIEA fazem vistorias em usinas e laboratórios para garantir que o país vistoriado esteja respeitando as regras internacionais sobre o assunto.

Durante a Conferência da semana passada, os EUA - um dos maiores detentores de arsenal nuclear e único a já ter usado esse arsenal em guerra - fizeram enorme esforço para que os países do mundo assinassem um adendo do TNP que aumentaria o poder "de polícia" da AIEA.

Esse adendo daria liberdade para que os referidos técnicos pudessem vistoriar qualquer localidade de um país "a qualquer tempo". Ou seja, teriam autorização para fazer ,até mesmo, "vistorias surpresas".

Alegam que essa seria a melhor forma desbaratar programas e instalações secretas nos países visitados.

Entretanto, alegação de que os países não deveriam possuir programas secretos de desenvolvimento nuclear não se sustenta.
Israel possui um programa nuclear do qual pouco se sabe e, mesmo assim, as nações líderes do Conselho de Segurança da ONU nada falam sobre o risco de ogivas nucleares voarem sobre a Palestina.

(Talvez porque Israel seja tratado como sendo parte dos "bonzinhos" já que são políticamente muito próximos aos EUA).

O mundo "subdesenvolvido" é o grande alvo do "novo TNP".
Os países desenvolvidos relutam em aceitar que o "Clube Atômico" - antes restrito aos grandes países europeus , a China e aos EUA - vem sendo ampliado.
Paquistão, Índia e Coreia do Norte já possuem suas próprias armas, o que assusta os países de Primeiro Mundo.

O Irã, ao que tudo indica, está próximo de possuir seu próprio arsenal.

Alias, faço a pergunta:

Por que o Brasil insiste em negociar saídas pacíficas para o impasse atômico iraniano?
Em primeiro lugar, porque o Brasil é um país históricamente pacífico, preceito que aqui está presente na Constituição Federal.

Segundo, porque os dirigentes brasileiros perceberam que os mesmos países que hoje criticam o programa iraniano podem, no futuro, se voltar contra o Brasil.

O Brasil é detentor de enormes jazidas de mineral atômico. A jazida de Urânio é das maiores (senão "a" maior) do mundo.
O que claramente aumenta a cobiça internacional sobre nossa nação.

Soma-se a isso, a tecnologia nuclear do Brasil.

Para enriquecer urânio são necessárias centrífugas especiais, o Brasil desenvolveu - com tecnologia própria - as centrífugas mais eficientes do mundo (melhores até do que as americanas e russas). Logicamente, os países desenvolvidos querem ter acesso a essa tecnologia pioneira.

Para isso, criam factoides e "duvidam" que o programa nacional seja mesmo pacífico, argumento que apresentam para tentar adentrar as instalações dos laboratórios nacionais.
O Brasil, sabiamente, nega a entrada em determinadas áreas desses complexos.

Nosso país parte do principio de que tecnologia nuclear existe, que deve haver regulamentação sobre seu uso, mas nenhum país deve ser probido de desenvolvê-la.
Deve, sim, ser punido caso ameace usá-la indevidamente.

O Itamaraty e o atual governo têm como princípio o conceito de que não devemos nos submeter aos designios de nações que se colocam como "protetoras da Humanidade" quando na verdade querem preservar seus "status" de potência nuclear "congelando" o desenvolvimento tecnológico do resto do mundo.

Samuel Pinheiro Guimarães, (ex-Secretário Geral do Itamaraty) e mentor da atual política externa do Brasil, afirma que:

"As grandes Nações do mundo só respeitam os países que se dão ao respeito [e não agem de maneira subserviente para com os Estados mais poderosos]".

Sou obrigado a concordar com "Seu Samuca" e com a atual postura brasileira.

Alias, deixo uma pergunta no ar:

Existe muita regulamentação acerca do uso da energia e arsenal atômico, mas as armas convencionais são as grandes causadoras de mortes em conflitos pelo mundo.

Se o problema é o dano e o sofrimento causado pelas armas em geral, não seria adequado que se criasse maior regulamentação em relação à sua produção?
A quem interessa a ampliação contínua dos arsenais convencionais?


(foto da WEB)

domingo, 3 de janeiro de 2010

George Soros e a crise em "W".

O mega-investidor George Soros (foto) escreveu artigo reproduzido pela Folha de S. Paulo no dia 03/01/2010 dando sua posição sobre o momento atual e sua previsão para o futuro da economia mundial.

Para Soros, vivemos uma transição. O neoliberalismo, o tempo em que os Estados Nacionais deixam as finanças a cargo dos conglomerados globais, está com seus dias contados. A crise atual mostra a incapacidade das grandes empresas em manterem, o bom andamento da economia global quase sem regulamentação.

O mega-investidor afirma que este momento é mais delicado do que o vivido em 1929, visto que hoje as economias dos países estão efetivamente mais integradas, portanto, muito mais interdependentes e frágeis.

Soros acredita que a melhor maneira para solucionar a crise global que vivenciamos é uma maior interação entre todos os Estados Nacionais.

Admite que ações neste sentido já estão sendo tomadas mas critica a maneira"tradicional" como estas intervenções têm sido conduzidas.
Afirma que as injeções de capital feitas pelos Estados nos mercados são uma maneira "artificial" de garantir o sistema funcionando. Dá a entender que as soluções são velhas, entretanto a maneira como esta crise se apresenta é nova, desta forma crê que o problema foi adiado, mas não resolvido.

George prevê que poderá haver uma nova depressão dos mercados nos próximos 18 meses.
É o que alguns economista vêm chamando de "Crise em W" (devido ao formato do gráfico de crescimento econômico). Ao que parece, em 2010, estariamos chegando ao fim do "primeiro V".

Para evitarmos o "segundo V", Soros sugere que deve haver uma mudança de atitude dos governos e dos operadores do sistema econômico mundial, pois a ilusão do fim da crise está reavivando os vícios que a originaram.

Soros advoga que situações inéditas exigem soluções inéditas.
Propõe uma organização de caráter multinacional como a OMC ou o FMI, mas mais poderosa do que esses, com liberdade para orquestrar uma regulação mais "firme" dos processos financeiros e que impeça ações protecionistas dos países.

O aporte de dinheiro fornecido pelos Estados foi importante nesta fase atual da economia global, entretanto, é um artifício que não poderá ser repetido com tanta frequência. Os Estados nacionais têm seus próprios gastos para administrar e a população não aceitará que o dinheiro de seus impostos seja revertido para resgatar empresas que "dão passos maiores do que as pernas" ou que premiam executivos como Bernard Madoff (que foi preso por fraude financeira).

Outros como ele ainda estão soltos e podem causar danos de proporções tão grandes ou maiores do que os que já ocorreram.

Mudanças como as que apregoadas por Soros sempre são válidas.

Que venha o novo!