quinta-feira, 14 de julho de 2011

A arte de reaprender a escrever.

Escrever é arte. Usando esse conceito, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto,justificou o fim da obrigatoriedade de diploma, para o exercício da profissão de jornalista.
Concordo com o magistrado, difícil é ser criativo e respeitar a norma culta ao mesmo tempo. No início de Maio, vivenciei momentos de profundo desalento, motivado pela dificuldade em adaptar-me a rigidez do português oficial.

As provas para o Itamaraty haviam passado e eu iniciava o Curso Clio, especializado nesse exame, para aumentar minhas chances no certame do próximo ano. Minha vida deu uma guinada após a mal-fadada AULA DE REDAÇÃO. O professor, um carioca chamado Max, muito gente fina, foi diretamente ao ponto:
Vocês são diferenciados, não é qualquer um que decide pela diplomacia. Provavelmente, foram ótimos alunos durante toda sua vida acadêmica, muitos de vocês já devem ter mestrado ou doutorado, outros devem, até mesmo, ser professores universitários. Notas baixas não fazem parte da sua realidade. Pois é, isso é passado. Esse curso vai ensiná-los a usar a norma culta no grau mais exigente possível. Vou "canetar" suas redações sem piedade, serão comuns os ZEROS e, mesmo, notas NEGATIVAS. Preparem-se!
Em seguida, veio um bloco de folhas com tudo o que se pode e o que não se pode fazer em uma redação de Segunda Fase - do Exame de Admissão do Instituto Rio Branco - a lista dos "NÃO" era muito mais extensa do que a do "SIM". Sai da sala abalado, fiquei "sem chão". Tudo o que havia aprendido até ali não servia. Mais de 20 anos construindo um estilo próprio de escrita e teria de abdicar dele. Senti como se tivessem me roubado a identidade. Pensei em desabar ali mesmo, cogitei desistir de tudo e virar "hippie". A primeira tarefa, uma interpretação fácil, de 25 linhas, sobre Machado de Assis, não consegui nem começar. Na semana seguinte, fui conversar com o professor, contei-lhe sobre o meu "travamento" e perguntei-lhe se deveria fazer um "pré-curso" de Redação antes de fazer esse. Fui acalmado, o carioca mandou-me fazer do jeito que estava acostumado, as correções seriam feitas sem piedade, mas haveria ensinamento conjuntamente com a "canetada". Comparou a nova fase como alguém que aprender a dirigir automóvel. No início, é complexo, depois, "sai naturalmente". Ganhei confiança.

No início, achava que seria o curso mais difícil da minha vida. Mudei a abordagem, decidi que seria o melhor curso da minha vida. Faria as propostas de aula até ficarem do jeito que eu queria. Atualmente, reescrevo cada redação, em média, 5 vezes, antes de entregar, trabalho, o que me toma uns 5 dias. Quase não me dedico ao resto do curso, aprender esse formato de escrita do Itamaraty virou questão de honra, obsessão. Será duro quando tiver que fazer a resenha em 5 horas.

Passaram-se 2 meses desde o início do curso, a exigência é alta mesmo, achava que perderia meu estilo, hoje, vejo que meu estilo ficará ainda mais apurado. A falta de recursos linguísticos faz aflorar a criatividade. Não ZEREI em nenhuma tarefa, minha média de notas é 7.5, parece pouco, mas, não é. Sei que sou um dos melhores da classe, sem mestrado e sem doutorado, ânimo renovado. É surpreendente quando a pessoa apanha em todas aulas e sai feliz. Consegui postar minha primeira dissertação, espero que o tamanho dela seja suficiente para a leitura e que os (poucos e corajosos) leitores desse blog, tenham paciência para chegar ao fim dela. Deu muito trabalho para ser concluida, e o dobro de satisfação após ser corrigida.

Devo agradecer ao Celso Forster, amigo de infância e jornalista, que me ajudou a colocar os pensamentos no lugar quando a situação estava crítica e eu pensava em desistir. Obrigado, irmão.



(Fonte da imagem: http://www.not1.com.br/wp-content/uploads/2010/11/caneta-tinteiro-colecionadores.jpg)

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