terça-feira, 28 de julho de 2009

Besouro Cibernético.

Qual a relação entre o Vale do Silício, nos EUA e a Amazônia?

Algum brincalhão poderia dizer:

Ambos estão cheios de americanos.

Sim, é verdade!!!

Mas não e´só isso.... é que os tais gringos vem aqui e não tiram apenas fotos.
Já faz algum tempo tiram também espécimes de plantas e bichos para pesquisa em medicina e equipamentos eletrônicos de ponta.

A Marina Silva, Senadora (PT-AC), que escreve semanalmente para a Folha-SP, alertou em sua ultima coluna para dois casos recentes de assalto ao patrímonio biológico nacional.

No primeiro deles, o Museu de História Nacional de Genebra (Suiça) divulgou o que seria o maior besouro do mundo. Chama-se "Titanus Gigantus", tambem conhecido como:
"Besouro Gigante da Amazonia". O inseto tem o tamanho da mão de um adulto.

Alguém já tinha ouvido falar?

Eu não.

Pois e´, os gringos se apreveitam de nosso desconhecimento (inclusive o de nossas autoridades), para carregar nossas riquezas biológicas e sair expondo mundo afora como sendo descoberta deles (aposto que foi algum índio que mostrou).

E o gringo que carregou o besouro para o exterior ainda teve a coragem de dizer que ficou preso na mala dele (tá bom! sei....). O Bicho é, literalmente, do tamanho de uma frigideira e o gringo só notou quando chegou na Europa.... me engana que eu gosto....

Como se isso já não fosse um absurdo, eles fazem ainda pior.

Pesquisadores americanos descobriram que a carapaça de outro besouro brasileiro (Lamprocyphus augustus) possui propriedades que serão usadas para melhorar a condutividade de micro-chips de computadores.

Para esses "piratas" foi mais fácil ainda.... nem precisaram se sujar.... apenas emcomendaram pela Internet a um vendedor BELGA (!!!).

Para que internacionalizar a Amazônia? Ela já e´ dos gringos faz tempo....

Que o Brasil não possui capacidade para desenvolver pesquisas de tecnologia de ponta nós já sabiamos, mas poderia ser feito e´ um sistema que garante dividendos ao Brasil por descobertas feitas com patrimônio nosso.
Quiçá uma parceria em pesquisa e uma co-autoria dos resultados.

A Convenção Para a Diversidade Biológica (CDB), Assinada pelo Brasil durante a ECO-92 prevê esse tipo de situação, mas os EUA nunca ratificaram o documento, o que o torna inútil como peça jurídica e facilita situções de roubo como estas.

Infelizmente essa questão não possui solução simples. Para pressionar os governos fortes do mundo precisamos fazer mais do que fazemos e sermos mais do que somos, e mesmo que o Lula seja "O Cara" pro nosso amigo Obama, isso não garante nenhuma melhora imediata em nossa posição no concerto internacional.

E a Senadora Marina (que não acha Lula "O Cara"), tem razão quando diz que um besouro sozinho poderia garantir mais lucro do que todos os bois criados em áreas irregularmente desmatadas na Amazônia.

E ai senhores o que vale mais? Floresta em pé ou "deitada"?


Abaixo vai a íntegra do Artigo da Marina Silva

O besouro é nosso

FOlha-SP 27-7

LI, NA SEMANA passada, duas notícias que contam como nossas riquezas naturais continuam sendo ignoradas por nós e apropriadas por outras nações. A primeira dizia que em março o Museu de História Natural de Genebra divulgou sua nova aquisição: o Titanus gigantus, o maior inseto do mundo, conhecido como besouro gigante da Amazônia.
Seu tamanho impressiona -é maior que a mão de um adulto- e certamente fará sucesso entre os visitantes. De acordo com o museu, acredite-se ou não, o besouro teria "viajado por engano na mala de um turista suíço". Assustado, ele teria chamado uma empresa de dedetização, que encaminhou o espécime ao museu.
Outro besouro brasileiro também vem fazendo sucesso, nos Estados Unidos. Pesquisadores da Universidade de Utah acreditam ter encontrado o cristal fotônico ideal na carapaça do besouro Lamprocyphus augustus. Esse cristal é essencial para a construção de circuitos eletrônicos que manipulem dados por meio de luz (fótons), em vez de cargas elétricas (elétrons).
E o curioso é que os cientistas americanos não tiveram trabalho para conseguir o inseto brasileiro. Encomendaram-no a um vendedor da Bélgica, pela internet. Não duvido que, apenas com a tecnologia decorrente das pesquisas com este único besouro, os americanos produzam mais riqueza do que todo o valor anual da exploração ilegal de madeira, da soja e do gado na Amazônia.
Temos a maior porção da maior floresta tropical do planeta. É um tesouro em biodiversidade que precisa ser cuidado e explorado pelo Brasil. Em 2006, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou a falta de controle nas fronteiras como razão da perda anual de US$ 2,4 bilhões, com a saída de animais e plantas que acabam por gerar produtos patenteados no exterior. São muitas as ameaças à biodiversidade brasileira: biopirataria, aquecimento global, desmatamento, tráfico de animais, superexploração de espécies. E a mais terrível parece ser a nossa inoperância diante disso tudo.
Em 1994, o Brasil ratificou a Convenção da Biodiversidade Biológica. Em 1995, apresentei proposta no Senado para disciplinar o acesso aos recursos genéticos no país. O projeto (PL 4.842) foi à Camara dos Deputados em 1998 e lá está até hoje. Outra tentativa foi feita em 2003, por meio do Ministério do Meio Ambiente.
Nova proposta foi negociada por mais de cinco anos, com todos os setores interessados. Novamente deu em nada. Continuamos sem regras. E todo o conhecimento gerado pela biodiversidade continuará sendo apropriado por quem chegar primeiro, sem gerar dividendos para o país.

Marina Silva

contatomarinasilva@uol.com.br

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